A inveja é um sentimento doloroso. É um complexo de sentimentos de inferioridade e ressentimento, disparados pela percepção da superioridade do outro em termos de qualidade, de conquista ou de posse. A inveja tem implicações importantes para a vida pessoal e para as relações sociais. O invejoso sente dor, e, para se livrar do desconforto, pode investir em estratégias danosas para as relações sociais e para o bem-estar social maior. Com base nos achados do estudo neurocientífico publicado na revista Science, realizado no Japão por Hidehiko Takahashi e colegas (2009), explico a dinâmica do sentimento de inveja.
Nós atribuímos valor aos objetos muito mais por comparação do que pelo seu valor intrínseco ou absoluto. Disso decorre que, usualmente, a avaliação que fazemos de nós mesmos é fruto de comparação com pessoas que são relevantes para nós, que tem características e interesses parecidos, bem como participam de grupos sociais semelhantes. Nós tendemos a manter um bom autoconceito de nós mesmos. Quando o bom autoconceito é ameaçado por outro que tem melhor desempenho ou qualidades em um determinado campo importante para nós, sentimos desconforto. O grau do desconforto é proporcional à ameaça que percebemos à imagem positiva que temos de nós.
O sentimento de inveja pode ser disparado quando nos sentimos inferiores e mais fracos frente ao outro em um determinado domínio (campo). Quanto maior é a percepção da lacuna da diferença, mais forte é a dor da inveja. Com efeito, desejamos ter as mesmas qualidades daquele que percebemos superior, ou queremos que ele não as tenha.
Para reduzir ou se livrar da dor, aquele que sente inveja adota uma ou mais estratégias. Uma delas é relativizar o valor do domínio em questão, mudar de espaços de convívio, ou até mesmo alterar os objetivos de carreira e vida. Como alternativa a essa esquiva da dor, aquele que sente a dor da lacuna da inferioridade pode se envolver em comportamentos para melhorar suas qualidades, posses, ou desempenho.
Uma terceira estratégia é desejar que o outro não tenha as características que o qualificam com status superior, e, como efeito, o invejoso investe em maneiras de destruir os atributos com violência física ou moral, ou em modos de obstruir a vantagem ou progresso do outro. Essa estratégia é particularmente danosa para o convício social e para o bem-estar social maior, porque o invejoso investe na sabotagem do outro, e até de outros. Segundo Hidehiko Takahashi e colegas, quando o invejoso observa a desgraça do outro a quem ele atribui vantagem, ele tem a vivência de satisfação e prazer. A experiência de recompensa na desgraça do outro é proporcional à dor que era sentida antes – observar a desgraça do outro é fonte de estímulo.
Descrito esse quadro, seguem algumas reflexões sobre possíveis caminhos para lidar com a inveja nossa e dos outros. Primeiro, comparar-se menos com os outros – reconhecer e dar foco no valor intrínseco pessoal. A atribuição de poder ao outro pode estar amplificada pela fantasia (“a grama do vizinho é mais verdinha”). Segundo, se o status do outro é ameaçador, avalie a natureza e a relevância da ameaça. É uma ameaça à vaidade? É uma ameaça a quê? Se identificar relevância, analise o que é de fato importante que seja melhorado ou alterado. Terceiro, ao invejoso, reconheça o valor pessoal intrínseco dele. Estimule verdadeiramente que ele perceba suas qualidades próprias e aquilo com o que ele contribui e tem a oferecer. Isso ajuda a reduzir a percepção de ameaça e o sentimento de fraqueza, a aumentar sua importância relativa e, como consequência, a reduzir a operação da inveja.