Introdução à terapia cognitivo-comportamental
A TCC é uma abordagem terapêutica que tem como objetivo ajudar as pessoas a identificar e mudar padrões de pensamento e comportamento negativos que estão causando sofrimento emocional ou interferindo em sua qualidade de vida. É uma das terapias mais populares nos EUA, porém ainda não tão difundida no Brasil.
Para entender melhor como funciona a TCC, vamos dar um exemplo: imagine que você tem medo de falar em público e isso está prejudicando sua vida profissional. Na TCC, o terapeuta irá trabalhar com você para identificar quais são os pensamentos negativos que você tem em relação a falar em público, como “vou fazer papel de ridículo” ou “ninguém vai se interessar pelo que eu tenho a dizer”. Depois, vocês irão trabalhar juntos para mudar esses padrões de pensamento, substituindo-os por pensamentos mais positivos e realistas, como “eu tenho conhecimento e experiência para compartilhar” ou “eu posso fazer uma apresentação bem-sucedida se me preparar adequadamente”. Além disso, vocês irão praticar técnicas para controlar a ansiedade e se preparar para falar em público, como a respiração diafragmática e a visualização positiva.
A TCC é uma terapia breve e focada, geralmente realizada em sessões semanais de cerca de uma hora. Ela pode ser usada para tratar uma ampla gama de problemas, como ansiedade, depressão, transtornos alimentares, vícios e fobias.
Se você está considerando fazer terapia cognitivo-comportamental, é importante escolher um terapeuta qualificado e experiente na abordagem. Você também pode pesquisar recursos on-line, como livros e vídeos, para aprender mais sobre a TCC e como ela pode ajudar você a alcançar seus objetivos de saúde mental.
Conceitos básicos da terapia cognitivo-comportamental
Pensamentos automáticos negativos:
Esses são pensamentos que surgem em nossa mente sem que percebamos, muitas vezes em resposta a uma situação estressante ou desafiadora. Por exemplo, se você receber uma crítica do seu chefe no trabalho, pode ter pensamentos automáticos negativos como “eu sou um fracasso” ou “nunca vou conseguir fazer nada certo”. Na TCC, o objetivo é identificar esses pensamentos automáticos e trabalhar para mudá-los, substituindo-os por pensamentos mais realistas e positivos.
Crenças nucleares:
Essas são crenças profundas e arraigadas que temos sobre nós mesmos, outras pessoas e o mundo ao nosso redor. Elas muitas vezes se desenvolvem a partir de experiências de vida passadas e podem ser positivas ou negativas. Por exemplo, uma crença nuclear negativa pode ser “eu sou sempre um fracasso”, enquanto uma crença nuclear positiva pode ser “eu sou uma pessoa boa e confiável”. Na TCC, trabalhamos para identificar essas crenças nucleares e avaliar se elas são realistas ou se estão prejudicando nosso bem-estar emocional. Em seguida, trabalhamos para modificar as crenças nucleares negativas e fortalecer as positivas.
Exposição Gradual:
Na TCC, a exposição é uma técnica usada para ajudar as pessoas a superar seus medos e fobias. Ela envolve expor gradualmente a pessoa a situações que ela tem medo, para que ela possa aprender a lidar com a ansiedade e superar o medo. Por exemplo, se uma pessoa tem medo de voar, o terapeuta pode começar expondo-a a imagens de aviões, depois a sons de aviões e finalmente a voos curtos. Gradualmente, a pessoa pode aprender a controlar sua ansiedade e superar seu medo de voar.
Reestruturação cognitiva:
Este conceito se refere a uma técnica usada na TCC para ajudar as pessoas a identificar e mudar seus pensamentos negativos ou distorcidos. A ideia é que muitos problemas emocionais, como a ansiedade e a depressão, são causados por padrões de pensamento negativos e distorcidos. Na reestruturação cognitiva, o terapeuta ajuda o paciente a identificar esses padrões de pensamento negativos e a substituí-los por pensamentos mais realistas e saudáveis.
Exposição e Prevenção de Resposta (TEPR):
Esta é uma técnica usada na TCC para tratar transtornos obsessivo-compulsivos (TOC) e envolve a exposição gradual a situações que causam obsessões, enquanto a pessoa é desencorajada de realizar compulsões. A ideia é que, com a prática, a pessoa possa aprender a lidar com as obsessões e compulsões e se tornar mais capaz de controlar seu comportamento.
Questionamento socrático:
Ele é baseado na filosofia de Sócrates, que acreditava que a verdade pode ser encontrada através do questionamento cuidadoso e sistemático. Na TCC, essa técnica é usada para ajudar o paciente a examinar seus pensamentos e crenças, de forma a identificar se eles são realistas, precisos e úteis, ou se são negativos, distorcidos e prejudiciais. O terapeuta usa o questionamento socrático para ajudar o paciente a explorar suas crenças e pensamentos mais profundamente.
Psicoeducação
Ela envolve instruir o paciente sobre o problema que ele está inserido. Ela pode também ajudar o paciente a desenvolver habilidades para lidar com as dificuldades que encontra na vida. Quando o paciente entende melhor o seu problema, ele pode se sentir mais capacitado para tomar medidas para melhorar a sua vida e alcançar seus objetivos.
História e evolução da terapia cognitivo-comportamental
Na década de 50, nos EUA, os psicanalistas e os behavioristas começavam a entender que suas compreensões sobre a depressão tinham lacunas compreensivas importantes. Com isso, nas décadas seguintes, muitos adeptos dessas abordagens se afastaram delas. Nesse movimento, em 1962, Ellis descobriu os pensamentos automáticos negativos e sua conexão com os estados afetivos, e como isso se relacionava com os comportamentos. Ellis criou e desenvolveu o modelo compreensivo e de tratamento cunhado com o nome de Terapia Racional Emotiva.
Nessa evolução de mudança do modelo compreensivo do funcionamento humano e tratamento dos transtornos mentais, o psiquiatra Dr. Aaron Beck teve papel de destaque. Ele ficou conhecido como o pai da terapia cognitivo comportamental. Ele nasceu em 18 de julho de 1921, em Rhode Island, nos Estados Unidos. Depois de servir na Segunda Guerra Mundial, ele se formou na Universidade Brown em 1942 e, em seguida, na Escola de Medicina da Universidade Yale em 1946.
Beck é reconhecido por suas contribuições para a psicoterapia e sua pesquisa sobre transtornos mentais, em especial a depressão. Em meados dos anos 1950, ele começou a desenvolver sua teoria da terapia cognitiva, depois de perceber que os pacientes tinham pensamentos negativos que contribuíam para as emoções negativas e para seus problemas.
Em 1961, ele publicou o livro “Psychopathology of Depression”, que descreveu sua abordagem terapêutica para a depressão. Ele enfatizou a importância de ajudar os pacientes a identificar e mudar seus padrões de pensamento negativos. Em 1979, ele publicou o livro “Cognitive Therapy and the Emotional Disorders”, que expandiu sua teoria para incluir outros transtornos mentais.
Além de suas contribuições para a psicoterapia, Beck também é conhecido por sua pesquisa em psicometria, em particular o desenvolvimento do Inventário de Depressão de Beck, um teste utilizado para avaliar a gravidade da depressão em pacientes.
Como funciona a terapia cognitivo-comportamental?
Vamos dar uma olhada em algumas das etapas do tratamento.
Avaliação inicial:
A primeira etapa é uma avaliação inicial, em que o terapeuta faz uma série de perguntas para entender a natureza dos problemas da pessoa e determinar se a TCC é a abordagem certa para ela. O terapeuta também pode fazer alguns testes para avaliar os níveis de ansiedade, depressão e outros problemas emocionais.
Identificação de objetivos:
Depois de entender os problemas da pessoa, o terapeuta ajuda a estabelecer metas específicas e alcançáveis para o tratamento. Essas metas podem incluir mudanças no pensamento, comportamento e/ou emoções.
Treinamento em habilidades:
O terapeuta ensina habilidades práticas para lidar com os problemas emocionais e comportamentais da pessoa. Isso pode incluir técnicas de relaxamento, estratégias de resolução de problemas, exercícios de exposição e outras técnicas para lidar com a ansiedade, depressão, raiva e outros problemas emocionais.
Trabalho em conjunto:
O terapeuta e a pessoa trabalham juntos para identificar padrões de pensamento e comportamento negativos e disfuncionais e desenvolver novos padrões mais positivos e eficazes.
Implementação e prática:
A pessoa implementa as habilidades aprendidas na terapia e pratica essas habilidades em situações do mundo real. O terapeuta oferece feedback e suporte durante esse processo.
Acompanhamento:
Ao longo do tratamento, o terapeuta faz um acompanhamento regular para monitorar o progresso e ajustar o plano de tratamento, se necessário.
Terminação:
Quando as metas estabelecidas foram alcançadas, o terapeuta e a pessoa avaliam juntos o progresso e discutem o fim do tratamento.
Como você pode ver, a TCC é uma abordagem estruturada e orientada para a ação para o tratamento de problemas emocionais e comportamentais. Ela envolve a aprendizagem de habilidades práticas e eficazes para lidar com esses problemas, e a implementação e prática dessas habilidades na vida cotidiana.
As principais indicações da terapia cognitivo-comportamental
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem terapêutica que tem sido amplamente utilizada no tratamento de diversos transtornos mentais, incluindo:
- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC);
- Transtorno de ansiedade generalizada (TAG);
- Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT);
- Transtornos de ansiedade social (fobia social);
- Ansiedade de ligada à saúde;
- Depressão
- Insônia
- Bulimia
- Anorexia
- Compulsão alimentar
- Abuso de substâncias
- Síndrome do intestino irritável
- Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
- Esquizofrenia
- Transtorno Bipolar
- Transtorno do pânico
As principais diferenças entre a TCC e outras abordagens terapêuticas
Pragmatismo:
Ela ajuda a identificar problemas específicos, tanto no nível do pensamento, como no do comportamental, e tenta resolvê-los;
Altamente estruturada
Ao invés de falar livremente sobre sua vida, você e seu terapeuta discutem problemas específicos e estabelecem metas para você alcançar. As sessões tem uma estrutura, como checagem do humor, revisão do plano de ação e temas para as próximas sessões;
Focada em problemas atuais:
Essa abordagem está principalmente preocupado com como você pensa e age agora, em vez de focar em problemas do passado;
Colaborativa:
Seu terapeuta não vai te dizer o que fazer; eles trabalharão com você para encontrar soluções para suas dificuldades atuais.
A importância da relação terapêutica na TCC
A relação terapêutica é fator chave na mudança do paciente. A relação terapêutica se refere à conexão e à interação entre o terapeuta e o paciente durante a terapia. É uma relação colaborativa que envolve respeito mútuo, empatia, confiança e abertura. Porém, a TCC entende que ela é necessária, mas não suficiente para a transformação. Outros elementos devem estar presentes para que as mudanças necessárias aconteçam.
A eficácia da terapia cognitivo-comportamental
A TCC é uma das formas de psicoterapia mais estudadas no mundo. Uma amostra de 106 meta-análises foram revisadas para examinar a eficácia da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) em vários problemas, como transtornos de ansiedade, bulimia, problemas de controle de raiva e estresse geral. Além disso, foram examinados estudos adicionais sobre a eficácia da TCC em várias condições em crianças e idosos. Dessa análise, resultou que a TCC tem sólida evidências de eficácia, especialmente para os transtornos de ansiedade.
(Fonte: Hofmann, S. G., Asnaani, A., Vonk, I. J., Sawyer, A. T., & Fang, A. (2012). The Efficacy of Cognitive Behavioral Therapy: A Review of Meta-analyses. Cognitive therapy and research, 36(5), 427–440.)
Conclusão: A relevância da TCC na atualidade
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem ganhado popularidade tanto entre os terapeutas quanto entre o público em geral nos últimos anos. De acordo com estudos, a TCC tem se tornado a abordagem mais comum entre os psicólogos em atividade, nos EUA. Isso se deve à sua lógica e princípios claros, além dos livros de autoajuda baseados em TCC terem se tornado muito populares.
A mídia nos EUA também costuma destacar as vantagens da TCC. Um artigo recente do Washington Post afirmou que a TCC está rapidamente se tornando o tipo de terapia que as pessoas buscam quando dizem que estão “fazendo terapia”.
Mas o que explica essa crescente popularidade da TCC? Uma das razões é que ela é um tratamento estruturado e de curto prazo, o que a torna ideal para estudos empíricos. A TCC também se mostrou superior aos antidepressivos e igualmente eficaz que a terapia comportamental no tratamento da depressão em adultos. Além disso, quando combinada com medicamentos, a TCC tem se mostrado eficaz no tratamento de pacientes com esquizofrenia.
Devido a todo esse suporte empírico, a TCC está presente na maioria das diretrizes de tratamento para várias condições psiquiátricas. Além disso, a TCC é ensinada como parte obrigatória do currículo em programas de residência em psiquiatria. Por sua natureza, a TCC pode ser facilmente disseminada e implementada devido ao desenvolvimento de protocolos de tratamento específicos.
(FONTE: Gaudiano BA. Cognitive-behavioural therapies: achievements and challenges. Evid Based Ment Health. 2008 Feb;11(1):5-7.)
